A Equipe da Cosmopolita Arquitetura foi convidada pela Gazeta do Povo a responder algumas perguntas sobre a relação entre o aprendizado e o espaço físico das escolas brasileiras, que serviu de base para esta matéria. Mesmo já tendo trabalhado com isso, as perguntas nos instigaram a uma saudável reflexão sobre o assunto, pouco conhecido pelas pessoas. Resolvemos então, compartilhar os pontos mais interessantes.
Perspectiva da Escola Padrão Brasil Profissionalizado, financiada pelo Governo Federal
desde 2008. O projeto foi feito em parceria com os arquitetos: Paulo Cabral de Araújo Neto e Viviane Kawasaki. (Fonte: Arquivo pessoal)
Existe algum padrão para a construção de escolas? Quais são e o que levam em conta?
Para as Escolas Públicas Federais brasileiras, o Governo Federal, através do Ministério da Educação e do FNDE (Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação), disponibiliza manuais onde há diretrizes que garantem que as escolas construídas ou reformadas terão padrões mínimos de conforto e infra-estrutura, tais como dimensão das salas de aula e sanitários, tipos de acabamento, ventilação e iluminação adequados. Outra forma de padronização é feita através dos Projetos Padrões, cuja construção é financiada e orientada pelo FNDE ou Secretarias Estaduais e Municipais. Portanto, as diretrizes dependem se o órgão financiador é Federal, Estadual ou Municipal. Quanto às leis, temos algumas resoluções que acabam influenciando o Projeto. É o caso da Resolução Nº 59 da ANVISA, que tem por finalidade estabelecer critérios para o funcionamento de creches, Pré-Escolas, Hotéis de Bebês, Educandários e/ou estabelecimentos congêneres de atendimento à Criança.
Projeto Brasil Profissionalizado: espaços amplos de circulação e comunicação
visual bem clara. (Fonte: Arq. Fernanda F. Balmant)
Qual a relação entre estrutura física escolar e aprendizagem? Uma escola mais bonita e agradável influencia na vontade do aluno de ir à escola, por exemplo?
Em Projeto de Escolas, diferentes correntes pedagógicas dão origem a diferentes espaços. Enquanto que na maioria das escolas brasileiras é o professor quem troca de sala, há escolas onde são os alunos que se locomovem. Uma escola bonita pode estimular o aluno a querer freqüentar o espaço e cuidá-lo. No entanto, mais que uma escola bonita, o que mais influencia na aprendizagem são as condições de infra-estrutura que a escola oferece à alunos e professores, bem como a correta manutenção destes ambientes internos e externos. Sem as condições de conforto básico, como iluminação, ventilação, espaços bem dimensionados e mobiliário adequados, a criança não tem suas necessidades básicas atendidas e, conseqüentemente, seu aprendizado será prejudicado.
Escola Estadual Pedro Boaretto, em Cascavel -PR. Esta escola será ampliada com base nos Projetos Padrão do Estado, mas levando em consideração o conjunto arquitetônico existente.
(Fonte: SUDE, Sec. da Educação do Paraná)
Basicamente, o projeto de uma escola precisa ter separações claras de funções – tais como bloco administrativo, pedagógico, laboratórios, recreativo, refeitório e ginásio de esportes – a fim de se evitar ruído e problemas de conflito de fluxo. Outra preocupação na organização dos ambientes é a diferenciação clara entre o espaço dos alunos e o da comunidade. Hoje, um conceito muito utilizado em Escola Pública é a integração da comunidade, principalmente nos finais de semana, a fim de aproximar os pais da escola e fazer com que o aluno sinta que o espaço é dele. Isso se reflete na abertura de alguns ambientes para o uso comum, como ginásio, auditório e biblioteca. A dificuldade aí é preservar a integridade destes espaços, evitando furtos e depredações, e garantir a segurança dos alunos.
Escola Brasil Profissionalizado no Ceará. A parede frontal da Escola foi
liberada para que os alunos pudessem pintá-la, se apropriando positivamente
do espaço coletivo. (Fonte: Arq. Fernanda F. Balmant)
O paisagismo também é importante para a construção de uma escola?
Sim, é muito importante. A vegetação, combinada a um bom projeto paisagístico, além de criar espaços públicos e recreativos mais agradáveis, pode ajudar no conforto térmico e acústico. Por exemplo, se posicionamos um conjunto de árvores próximas à divisa da escola com a rua, conseguimos amenizar o ruído. Em climas quentes, as plantas podem criar áreas de convívio mais agradáveis, pois reduzem a temperatura local. Em climas secos, elas aumentam a umidade do ar. Além disso, estudos de psicologia comprovam que áreas verdes contemplativas ajudam no relaxamento.
Vista da Implantação de uma Escola Padrão Brasil Profissionalizado. Na parte frontal, estão biblioteca, auditório e administração. O centro compreende o Bloco pedagógico, seguido de Refeitório, Quadra Esportiva e Laboratórios de Ensino Profissionalizante. A organização das funções são claras, e levaram em consideram o ruído e fluxo, controlando assim o acesso público.
(Fonte: Arquivo pessoal)
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